O Jardim dos Esquecidos - V.C. Andrews
- Michele
- 17 de nov. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 12 de jun.
Naquela noite, deixei de acreditar que Deus era um juiz perfeito. Então, de certo modo, também perdi Deus.

Em uma ocasião, quando eu era criança, uma prima me perguntou se eu já tinha assistido ao filme O Jardim dos Esquecidos. Eu disse que não. Um tempo depois, aluguei o VHS e assisti. Era sobre umas crianças que ficam trancafiadas em um quarto pela avó rigorosa; elas brincavam em um sótão, havia bastante drama… e esse filme acabou me marcando bastante.
Recentemente, a amiga Jéssica Reinaldo (do blog Fright Like a Girl) postou que começaria a ler (ou que já estava lendo, não lembro ao certo) um livro com o mesmo título. Logo fui atrás e descobri que o tal filme da minha infância foi baseado nessa obra. E mais: que a história toda não se resumia a um único volume, mas a cinco livros!

O Jardim dos Esquecidos (Flowers in the Attic, no original, que pode ser traduzido como “flores no sótão”) foi escrito pela norte-americana V.C. Andrews (1923–1986) e publicado em 1979. A história começa apresentando os Dollanganger, uma família feliz da Pensilvânia, composta pela bela mãe Corinne, o igualmente belo pai Christopher, e seus quatro filhos encantadores: Chris, o mais velho, de 14 anos; Cathy, de 12; e os gêmeos Cory e Carrie, de 5 anos.
Eles moram em uma bela casa e suas vidas são repletas de alegria, até o fatídico dia em que o patriarca morre em um acidente de carro. Sem condições de sustentar os filhos, Corinne envia cartas aos pais em busca de ajuda. Mas há um detalhe: um ato do passado fez com que ela deixasse de ser a filha amada dos Foxworth e fosse expulsa e renegada pela família, perdendo o direito à herança.

De alguma forma, por meio dessas cartas, Corinne consegue convencer os pais. Na calada da noite, leva os filhos e alguns poucos pertences de volta à Foxworth Hall, na Virgínia, o lar onde passou a infância e adolescência. Chegando lá, os cinco são recepcionados friamente por Olivia, a mãe de Corinne, que os leva a um quarto quase escondido nos fundos do segundo andar da mansão. Corinne deixa os filhos com a promessa de que passariam pouco tempo ali, uma ou duas noites, até que pudesse conversar com seu pai, o poderoso Malcolm Neal Foxworth, que sofre de uma doença cardíaca e tem pouco tempo de vida. Corinne planeja reconquistar o amor do pai moribundo e voltar a ser incluída na herança.
Sob a vigilância constante da avó e suas regras rígidas, as quatro crianças são trancafiadas no quarto, sem nenhuma possibilidade de contato com o mundo exterior. Elas são tratadas como um segredo sujo, nem os empregados da casa, nem o velho avô podem saber da existência delas. E a promessa de poucos dias de confinamento se estende por semanas, meses… O único local onde podiam brincar livremente era o imenso sótão da casa, que transformam em uma área de entretenimento, um porto seguro longe dos olhos inquisidores da avó ultrarreligiosa, que os via como “crias do diabo”.
Amor... eu colocava muita fé nele. Verdade... eu acreditava que ela vinha dos lábios das pessoas a quem mais amávamos e em quem mais confiávamos. Fé... está ligada ao amor e à confiança. Onde uma termina e a outra começa, e como saber se o amor é o mais cego de todos?
A história é narrada por Cathy e expõe todo o sofrimento físico e psicológico vivido pelas crianças, além dos conflitos internos dela e do irmão, que estão entrando na puberdade. É uma ficção dramática com fortes elementos góticos: o casarão desolado e seus inúmeros aposentos, a atmosfera claustrofóbica do sótão, e a linhagem maldita (incluindo o tema do incesto).
A obra tem cerca de 400 páginas e, apesar de repetitiva em alguns momentos, seus personagens são bem desenvolvidos e a leitura fluiu bem. Gostei bastante do livro, tanto que, ao terminá-lo, fui correndo à Amazon comprar o e-book da sequência, Pétalas ao Vento.

O livro é um dramalhão sem fim, e talvez eu tenha gostado mais por conta da minha memória afetiva do que por sua qualidade (não que seja ruim, também). Apesar disso, alguns temas me incomodaram bastante. De qualquer forma, O Jardim dos Esquecidos foi inegavelmente um sucesso na época (mesmo tendo sido banido em algumas bibliotecas), vendendo mais de 40 milhões de exemplares no mundo e rendendo duas adaptações cinematográficas: uma lançada em 1987 e outra em 2014 — as quais pretendo (re)ver assim que possível.
A edição lida foi o e-book publicado pela Figurati, em 2015 (também disponível em capa comum), com tradução de Carolina Caires Coelho. É possível encontrar em sebos a edição antiga da Francisco Alves, de 1987.
Nota: 👻👻👻👻