Piquenique na Estrada - Arkádi e Boris Strugátski
- Michele
- 27 de mai. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 12 de jun.

Piquenique na Estrada é um livro de ficção científica da União Soviética, publicado pela primeira vez na revista literária Avrora, em 1972. Foi escrito pelos irmãos Arkádi (1925–1991) e Boris Strugátski (1933–2012).
A história retrata uma Terra após o evento da Visitação, em que alienígenas vieram, deixaram suas "tralhas" e foram embora. Os locais onde ocorreram essas visitas, chamados de Zonas, estão espalhados pelo mundo, e neste livro acompanhamos os acontecimentos na fictícia cidade de Harmont. Nessas Zonas são encontrados diversos objetos, em sua maioria com finalidades desconhecidas para os humanos. Aqueles que se aventuram clandestinamente por esses locais, em busca dessas quinquilharias para revender, são chamados de stalkers. É a história de um deles que acompanhamos ao longo do livro, cuja narrativa se inicia 13 anos após a Visitação.
Quando comecei a leitura, imaginei que, por ser um romance soviético, me depararia com propaganda ideológica. Mas, pelo contrário: o ponto central da obra é justamente a insignificância da humanidade diante do universo. De repente, alienígenas vieram à Terra, fizeram seu "piquenique, como sugere um dos cientistas do livro, deixaram seu lixo e foram embora, provavelmente com total indiferença aos seres que aqui vivem. Muitos dos objetos deixados parecem não ter propósito algum; outros poucos apresentam algum valor prático. E, mesmo assim, as pessoas seguem suas vidas, tentando extrair sentido (ou lucro) do incompreensível.
Agora sabemos que, para a humanidade de um modo geral, o fenômeno da Visitação passou quase sem deixar marcas. Para a humanidade, tudo passa sem deixar marcas. (...) Eu, porém, há muito parei de discutir sobre a humanidade em sua totalidade. Pois é um sistema extremamente estacionário, não há como atingi-lo.
A obra é concisa, direta, sem enrolações ou linguagem rebuscada. A belíssima edição brasileira, publicada pela Editora Aleph em 2017, foi traduzida diretamente do russo por Tatiana Larkina e está disponível em versão física (capa dura) e digital.
Publicação
O romance percorreu um longo e difícil caminho até ser publicado em forma de livro na União Soviética. Como descrito no posfácio da edição, foram necessários oito anos para que sua publicação fosse autorizada, ainda assim, completamente censurada. Como comenta Boris:
“Além disso, o romance certamente não possuía qualquer insinuação sobre a ordem vigente; muito pelo contrário, até transcorria conforme a vigente ideologia antiburguesa... Então por que, segundo quais motivos ocultos, misteriosos ou diabólicos, Piquenique foi condenado a uma verdadeira peregrinação editorial de mais de oito anos?”

As editoras soviéticas viam a obra como uma ameaça à moral da Juventude Comunista, por conter comportamentos amorais, violência física e vocabulário considerado vulgar. Somente na década de 1990 os autores conseguiram publicar a versão original. É, hoje, o livro soviético mais popular e mais traduzido do mundo.
Nota: 👻👻👻👻½
Adaptação
Em 1979, foi lançado um filme vagamente baseado no livro, dirigido pelo cineasta Andrei Tarkovsky, com roteiro assinado pelos próprios Strugátski. No longa, três personagens prestes a entrar na Zona protagonizam a narrativa. O primeiro ato é inteiramente filmado em preto e branco, com uma transição para o colorido quando finalmente adentram o local misterioso.
O filme, intitulado Stalker, tem 163 minutos de duração e é voltado ao público que aprecia cinema cult, já que possui um ritmo lento, carregado de simbolismo e filosofia.